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sábado, 13 de setembro de 2014

Não vamos desistir da polícia

A insegurança pública no Brasil tornou-se um problema de política e não só de polícia.   A sociedade virou as costas para a sua polícia. E isto é inaceitável. Sem segurança, não temos como avançar na construção de um projeto de nação.

O brutal assassinato do comandante de uma das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) do Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio de Janeiro, capitão c Uanderson Manoel da Silva, de apenas 34 anos, é a mais atual tragédia. 

Um policial é assassinado a cada 32 horas no Brasil. Não é possível que achemos que este não é um problema nosso. A omissão da sociedade é criminosa. Não basta gritar que é preciso mais polícia na rua, baixar a idade penal, tascar fogo nos pobres e meter a porrada no bandido.  

É preciso impedir que o menino e a menina se transformem nos monstros que colecionam crimes em seus currículos. Hoje, uma boa parte dos nossos jovens já se familiarizou com a impiedade no cartão de visitas.

O nosso problema é anterior ao momento da decisão do camarada em pegar uma "máquina" e sair por aí tocando o terror. E não é só dever da escola. É da família, da igreja e do vendedor de frutas da esquina.

No ano passado, 229 policiais civis e militares foram mortos, 183 estavam de folga. 

Com esta estatística, torna-se irrelevante se o policial estava ou não com colete a prova de balas, com arma na cintura ou no banco do carona no carro. O bandido identifica o policial como inimigo e o confronta. O policial é a autoridade visível. Nós e os governantes estamos aqui no ar condicionado. É mais fácil fingirmos que isto não é com a gente. Estamos completamente equivocados.

A Polícia precisa de socorro. 190 para ela, já.

Quem já não ouviu algo como "tira a velharia da ativa e bota a garotada para oxigenar a polícia". Nem sempre isso funciona. Muitos jovens entram cheios de sonhos e não demora e os novatos já estão repetindo os vícios dos antigos. Isto aconteceu também na saudável ideia das UPPs. O modelo de renovação deve ser feito com o ímpeto dos jovens misturados aos cabelos brancos da experiência. Policial flagrado em desvio de conduta pede para sair.

A separação na cobertura de ação entre as polícias, guarda municipal, rodoviária e florestal criou um emaranhado ineficaz e de difícil gerenciamento. Tenta convencer um policial na viatura a perseguir um louco que acabou de ultrapassar o sinal vermelho em frente a uma escola repleta de criancinhas. Certamente ele vai dizer: "isto não é conosco, senhor. Esta área não nos pertence. Nós estamos em operação. A PM no Rio não multa". A ordem pública não é de ninguém, é isso?

Você já ouviu algo assim como "mude os instrutores e uma nova filosofia de respeito aos direitos humanos brotará como flores no jardim"? Balela. A capacitação só funciona com remuneração justa, acompanhamento sistemático dos inscritos na missão e reciclagem constante. Mas constante, mesmo.

O que a "política" pode fazer em benefício do trabalho do secretário José Mariano Beltrame, por exemplo?

Planejamento de segurança é algo tão sério que deve ser feito e comandado por especialistas, mas com a anuência da sociedade. Trazer para dentro das nossas casas o "barulho" do Beltrame já ajudaria bastante.

Nas favelas do Rio hoje há um divórcio entre a polícia que nos representa e os verdadeiros líderes dos moradores. Um vizinho preso é um atentado ao tecido comunitário. O morador não aceita. Prefere se manifestar contra a Polícia, incendiar ônibus, queimar o lixo, obstruir as ruas com concreto e xingar o povo do asfalto.

Está faltando diálogo entre a autoridade e cidadão, papo reto, obras e ações com nome, responsáveis pelos processos e datas definidas de entrega. Chega de botar material de quinta, preço Fifa e o secretário e o governador que jamais voltam para fiscalizar cada centavo investido. Basta.

Precisamos ser adultos e abrir negociação com o povão. Não tem a menor importância quem possa estar do outro lado do balcão, desde que a Lei prevaleça. Polícia para quem precisa de polícia. Dê microfone e palanque para o morador, discuta com ele que a luz virá. Recupera-se credibilidade indo ao lugar, sentindo as pessoas e olhando no fundo dos seus olhos. Com verdade e não com teatralização de que "eu finjo que governo e você finge que está achando legal a minha administração".

Matou, roubou, contrabandeou armas, sequestrou ou praticou qualquer outra violação ao Código Penal, mão pesada da Lei em cima dos criminosos. Jamais brutalizar o trabalhador. Um jovem me contou uma história que jamais gostaria de ver repetida. Um policial entrou no seu barraco e vasculhou todos os pertences da casa em busca de drogas. Como elas não existiam naquele lar, o soldado abriu todas as latas que guardavam arroz, feijão, milho, sal e açúcar e jogou o conteúdo sobre a mesa.  

Os homens da lei foram embora e deixaram para trás um tsunami naquela casa simples, de uma família pobre. A mãe do rapaz ficou horas separando os alimentos, em silêncio, e sem pingar uma lágrima. É aquilo!!!! É assim que a banda toca quando viramos as costas para a PM e para o povo sofrido. A desigualdade está matando até comandante. 

Eu defendo um pacto separando o joio do trigo. O Estado traz para si a responsabilidade que é só sua e a sociedade entra com a sua parte. Se a gente não conversar, sabe o que vai acontecer? Primeiro matam o recruta, o soldado e o cabo. Depois trucidam o sargento e o tenente. Não demora e o comandante da UPP também toma um tiro de fuzil no peito...

Você que está lendo este texto agora acredita que em quanto tempo estes caras levarão para chegar até a gente?

 Sidney Rezende

Um comentário:

  1. Com o perdão da palavra: o brasileiro tem se f. em dobro. Vive no vício do bolsa-preguiça, votando naqueles que pouco estão se lichando pra ele e quando algo dá errado, a culpa é da polícia. Sempre é dá polícia. A pilantragem corre solta nesse país medíocre e hipócrita. Mas, o brasileiro gosta assim. Depois, quer ser respeitado lá fora. Sonhar que um dia seremos respeitados por um povo ridículo e sem o mínimo de vergonha na cara, é acreditar no impossível. Quando alguém abre a boca pra dizer que tem vergonha de ser brasileiro, está sendo sensato e corajoso, pois viver num país, cujo o povo só exerce o "patriotismo" em tempo de copa do mundo dispensa comentários.

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