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quarta-feira, 5 de março de 2014

O carnaval acabou! Deixando mais evidente o apartheid e a luta por dignidade dentro da Polícia Militar

A Polícia Militar da Bahia vem sofrendo “convulsões” constantes no seio da tropa, principalmente por causa de decisões ou ausência destas por parte do governo, no que diz respeito a melhorias para o baixo clero da Corporação. Tais atos têm encontrado terreno fértil à instabilidade na ingerência de alguns administradores institucionais que velam pela inflexibilidade e manutenção de privilégios apartheidianos, que em muito vão de encontro à política do comando da PMBA.


Já passou da hora de governo e "Corporação" dar aos policiais o mesmo tratamento que esperam destes para com o cidadão, garantindo-lhe direitos prontamente reconhecidos aos não militares. Isso posto, vejamos; pode até ser legal – contudo arcaico – reprimir um protesto como o não recebimento do lanche ou sua doação, mas é imoral, ditatorial e só potencializa o desgaste do atual modelo de polícia vigente. Quando presos – pessoas com restrições de direitos – fazem greve de fome, o Estado dá suporte para que os alimentos sejam doados, por que com os policiais militares tem que ser diferente!?

Outro ponto é, como entender que o alimento a ser servido à tropa possa ficar armazenado, por 4 dias, lado a lado com banheiros químicos de odor fétido? que seja preciso denúncia e publicação na coluna tempo presente de Levi Vasconcelos, no A Tarde para mudar tal realidade? Só então foi resolvido, detalhe em meia hora. Será que tantos gestores não viram isso? Uma coisa é certa, a tropa vê a situação como descaso. Mas, por que os policiais não levam tais questionamentos a seus superiores? A questão é, como seriam recepcionados. Há quem acredite que o policial militar deve limitar-se apenas ao sim senhor e ao não senhor, todavia, nem tudo está perdido, neste caso a Polícia Militar emitiu nota admitindo erro e afirmando a solução do problema.

Quando parece que as coisas estão se acomodando, ganha foco o apartheid militar que se estende dos quarteis até os camarotes da Corporação, onde oficiais, melhor remunerados que as praças, ficam na parte superior com alimentação e bebida grátis e as praças subjugadas em baixo, sem qualquer regalia. Ao menos a isso a corporação deu uma resposta aceitável, de corrigir tal discriminação no próximo Carnaval, mas não satisfatória, visto que, a correção deveria ser imediata e definitiva. Óbvio que o remendo corporativo só existiu em função das inúmeras manifestações nas mídias sociais e na imprensa.

Não para por aí! Independente de credo, raça cor, posição social, ou hierárquica, qualquer servidor público, cidadão, pessoa, pode e deve socorrer alguém em perigo com a maior brevidade possível. Isto é um princípio humanitário, imaginem um policial, ainda mais se a vítima for um de seus pares, mas desde o período de formação que não se admite ao policial militar ser um humano normal, com suas limitações. Contudo, o Soldado Lima de Itabuna, que estava de serviço no carnaval, passou mal e – segundo relatos - em um espaço de cinco horas deslocou a pé três vezes ao posto médico, com uma pressão arterial de 220 x 170 e mesmo assim teve alta médica, quando deveria ser socorrido a uma unidade bem equipada.

Após a alta indevida, o soldado permaneceu dentro de uma viatura sem autorização de deslocamento, a partir das 7h 30,  a espera do termino do serviço, às 8 horas, para deslocar no ônibus da tropa. Tratando-se de saúde, qualquer fração de tempo pode determinar a vida ou a morte. Então, inconformados, os colegas começaram a propagar de indignação via Whatapp:

“Sd PM lima da BCS monte cristo itabuna-ba apos ser medicado por tres veses no posto de saude da piedade com pressao arterial de 22 x 17. Detalhe ele teve q dislocar-se tds as vezes sozinho e na troca de plantao do posto medico ele teve q ser liberado com um.relatorio q dizia para ter repouso total.. Ele ficou jogado numa vtr por mais uma hr quase desacordado tendo q deslocar para a vila militar... O major edson e a ten rosa nao deixaram q a vtr o levasse. Sendo indagado por colegas o major disse q nao era problema dele q chamassemos o samu. Os colegas fizeram uma vakinha e pagaram um taxi para levar o colega. Ao saber q ligamos para prisco ele ordenou q uma outra vtr interceptasse o tx e retirasse o colega. Mais td foi filmado... Revoltante... Divulguem a msgm e o video.”

Ao tomar conhecimento da mensagem e conhecendo os riscos de sua repercussão, não obstante a preocupação com o policia, o alto comando da Corporação adotou medidas no sentido resolver o problema e esclarecer os fatos. Cobrado por superiores, o Major Edson tornou públicas suas alegações:

“Boa tarde. Eu amo meus praças, sou filho de um Cabo PM - com muito orgulho - e jamais faria qualquer ato desumano a quem quer que fosse. Minha essencia é de ajudar, conceder direitos, e não de negá-los. Quem me conhece e já teve a oportunidade de trabalhar comigo sabe muito bem que isto é verdade. O Sd LIMA, do 15 BPM, teve toda a assistência devida, descansou no Posto PM, foi medicado no Posto de Saúde da Piedade, por problemas de pressão arterial elevada, e deveria ter permanecido naquela unidade de saúde. Tive a oportunidade de ver o vídeo em que ele se encontra na viatura, defronte ao posto policial em que me encontrava, todavia, posso afirmar que nesse lapso temporal ele estava sendo conduzido ao PRT do Colégio Central, onde seria transportado para a VPMB - tão certo é que o próprio policial que narra o vídeo informa a hora do seu registro, 8h25min, e isso pode evidenciar que momentos antes ele foi liberado pelo médico após o competente atendimento, é só verificar o prontuário do posto de saúde e o GPS da viatura na qual o mesmo se encontrava. Ademais, nota-se que há um movimento de uma ínfima parcela de policiais militares que querem a todo o custo desmerecer as ações da cúpula da Corporação e do Governo do Estado no sentido de criar o caos, entretanto, e com muita sabedoria e efetividade, estes têm atendido, satisfatoriamente, todas as demandas das diversas categorias da PM. Por fim, a tentativa de macular o nome deste oficial superior e o da Ten PM ROSAS, não muda em nada a forma cortês e profissional com que trato a todos, principalmente a nossa briosa tropa, formada por homens sérios e dignos.” (Major PM Edson)

Em uma análise simples percebesse que não há grandes conflitos entre as versões, mas sim manipulações convenientes do fato. Todavia, até onde sei o major, a tenente e as praças presentes não são médicos, portanto, não poderiam avaliar os riscos de um policial ficar a esperar um ônibus, nem que ser levado ao alojamento resolveria o problema. Segundo a ciência, a hipertensão poderia levar o policial a ter complicações irreversíveis em órgãos como coração, cérebro, rins, fígado, inclusive causando paralisia de membros e até a morte. O que eleva a importância do fator tempo no socorro.

Em seguida, mas sem autoria confirmada, passou a circular no Whatapp uma mensagem atribuída à Tenente Rosa:

“Cmt, bom dia novamente. Vou relatar pro Sr fato q ocorreu no final do sv e eu acabei nao constando em relatorio por nao achar relevante, ja q foi uma mera conduçao de apoio, por determinaçao do MAJ EDSON.
Por volta de 7h o Maj Edson ligou pro meu funcional e solicitou o apoio de uma vtr a um PM q estava em atendimento no posto de saude da Piedade ate e APENAS ATÉ ao Colegio Central.
A GU R-0094, sob o Cmdo do nosso Sd Aneyvaldo, ao chegar la, me ligou dizendo q o PM queria q o levasse ate a VPMB. Ele me ligou p saber qual a determinaçao a respeito disso e eu disse q Beta 22, pois o q o Maj havia determinado era so ate o Central pois de la ele pegaria a conduçao da PM.
Desliguei o tel e imediatamente liguei pro Maj p explicar a solicitaçao do Sd Lima e saber dele novamente o q fazer. Ele respondeu "NEGATIVO, o policial tá querendo dar um H em vcs e chegar primeiro q a tropa dele, pra se mandar logo."
Apos isso me ligou um tal de Sgt Caetano, alterado, dizendo q o PM tva de alta mas ainda mal e q precisava chegar a Vila pois ia viajar. Eu expliquei q nao podia sair da area e q tva cumprindo determinaçao do Maj Edson e pedi a ele q fosse ao PPI (q é bem proximo de onde eles estavam) para conversar c o Major.
Blza, passado um tempo meu Sd ligou dizendo q ja tva de retorno a area de Barroco e eu entao perguntei aonde eles deixaram o Sd Lima. Ele resp q o Maj Edson determinou q fosse so ate o Colegio Central e q o PM de lá pegou um taxi.” (Tenente Rosa)

Se esta mensagem é verdadeira a Corporação precisa apurar minunciosamente o caso, inclusive buscando o registro médico, onde deve constar desde os procedimentos adotados até as supostas entradas e saídas do policial da unidade. Visto que, ela revela uma postura equivocada e arriscada por parte do major ao retardar a condução do policial e não à base, mas ao hospital. Vale salientar que, posteriormente, o Soldado Lima foi devidamente atendido no Hospital Agenor Paiva e a pesar dos problemas de saúde apresentados, foi estabilizado e acomodado na casa do seu Comandante o Tenente Coronel Ubiraci Barbosa.

Existem muitos pessimistas e muitos relutantes que não acreditam e não querem mudanças institucionais a exemplo da carreira única e consequente queda do apartheid entre praças e oficiais, mas conquistas recentes da tropa, principalmente pelos esforços da ASPRA – única associação que ouve e defende os interesses dos policiais militares, para o qual muitos torcem a boca, tem provado que as mudanças são possíveis. Vide as GAPs IV e V, e a potente liberdade de expressão das mídias sociais a pautarem a imprensa.


Jaguaraci Barbosa

4 comentários:

  1. Só uma pequena observação: "Apos isso me ligou um tal de Sgt Caetano, alterado, dizendo q o PM tva de alta mas ainda mal e q precisava chegar a Vila pois ia viajar." Se ele estava tão mal, por que a pressa em viajar? Como ele ia viajar se estava tão mal?

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  2. Sou PM e fiquei indignado com a situação, estava alojado na mesma sala do soldado Lima e pude presenciar como ele se encontrava e estava presente quando o tenente coronel Ubiraci levou ele pra sua casa (atitude exemplar do oficial). Acredito que a melhor atitude a ser tomada nesse momento é de uma representação no ministério público, só assim oficiais como esse major pensarão duas vezes antes de qualquer atitude humilhante com seus subordinados, pois afinal somos pais e mães de famílias e merecemos todo respeito possível.

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  3. Esse caso é apenas um de dezenas de caso ocorridos em CARNAVAIS em SALVADOR,o descaso,o desrespeito e o total despreparo daqueles tido como GESTORES desta nossa PMBA,tem VITIMADO tanto FISICAMENTE,MORALMENTE como PSICOLOGICAMENTE os nossos PRAÇAS.Atê quando isso continuará?

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