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domingo, 4 de novembro de 2012

Alto número de policias necessita de auxílio pós trauma



O Serviço de Valorização Profissional (Sevap), Órgão de apoio à saúde psicossocial de policiais civis, militares e seus familiares, registrou cerca de 1.200 atendimentos de janeiro a outubro deste ano. O titular da unidade, Tenente Coronel PM Anildo Rocha, relata que parte do atendimento é oferecida a agentes com transtorno pós-traumático após operações de alta-tensão.

O número exato de oficiais diagnosticados com a doença no Estado não é divulgado pelo Órgão. O Presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindipoc), Marcos Oliveira, diz que a presença de agentes traumatizados é notória nas corporações.

Em quatro anos à frente do Sindipoc, ele afirma que registrou sete casos de suicídio. "Iniciamos há 35 dias uma pesquisa para tentar descobrir o que motiva essa realidade. Os dados devem ser divulgados em 60 dias". 

Segundo o psicólogo e atual Subcomandante do 10º Batalhão de Polícia de Barreiras, Major PM  Honorato Barbosa, as experiências de quase morte ou com óbitos de colegas costumam marcar os agentes. "As imagens voltam como flashes. Alguns começam a perder o sono; outros ficam irritados e, algumas vezes, depressivos", relata o Major.

Estatísticas de ambas as corporações mostram que 86 policiais foram assassinados na Bahia de janeiro de 2010 a outubro de 2012. Destes casos, 10 aconteceram durante o trabalho policial. As identidades dos policiais atendidos no Sevap são mantidas em sigilo.
 O Honorato, que acompanhou alguns casos, compartilhou uma dessas histórias com A TARDE, preservando a identidade do policial. Com 45 anos, um policial militar, há quase duas décadas, tenta superar a experiência traumática de ser o único sobrevivente de uma operação contra assaltantes de banco em Pirajá. Ele não consegue mais vestir a farda e tornou-se mensageiro do batalhão onde atua.

De acordo com o psicólogo e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Fabrício de Souza, os profissionais que passam por uma experiência de estresse pós-traumático podem desenvolver comportamentos diversos.

"Pessoas mais agressivas podem ter este comportamento potencializado e profissionais mais tímidos podem desenvolver características depressivas", diz. O psicólogo alerta que os sintomas não são previsíveis. "É importante que as polícias tenham uma equipe de psicólogos para lidar com estes agentes. É evidente que o estresse pós-traumático afeta a atividade profissional destes policiais com maior ou menor intensidade".

De acordo com Souza, a maioria dos casos de estresse pós-traumático são curados com tratamento. Por este motivo, o especialista orienta que os psicólogos das corporações avaliem se os sintomas apresentados pelos agentes permitem que eles desenvolvam trabalhos nas ruas.

Ciente da rotina complexa de quem trabalha na segurança pública, o Secretário da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos da Bahia (SJCDH), Almiro Sena, criou há cerca de um ano, o programa de formação em direitos humanos para os policiais. Embora em fase de construção, o programa possibilita ajuda inicial aos agentes que desenvolveram vício por drogas lícitas ou ilícitas.

Por meio da Superintendência de Prevenção e Acolhimento aos Usuários de Drogas e Apoio Familiar (Suprad), Órgão da SJCDH, os policiais que desejam receber ajuda e tratamento podem procurar a instituição, localizada no Centro Administrativo da Bahia (CAB), sem necessidade de intermediação da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA).

"Os policiais que passam por este tipo de problema ficam envergonhados de pedir ajuda, pois acreditam que o ônus será muito maior que os benefícios. Aqui garantimos a eles sigilo total", diz Sena.


A Tarde online

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