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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Policial militar reforça bolsa familia do Governo Federal

Na manhã desta quarta (27), Almerinda dos Santos, 61 anos, não tinha nem o pó para fazer o café da família. Meio-dia, dividiu com os seis netos um pouco de arroz, feijão e ovos fritos. De tarde, não teve merenda. À noite, porém, o jantar foi farto. À sua disposição estavam três cestas básicas completas, muitas verduras e frutas diversas. De sobremesa, chocolate.

“Isso chegou na hora certa, meu Deus! Eu já não sabia o que dar de comer pra esses meninos”, disse a ex-catadora de material reciclável ao receber a doação em casa, em Santa Cruz.

Quem levou a alegria para a casa de dona Almerinda foi um oficial da Polícia Militar que conheceu a história da idosa através do CORREIO. No sábado passado, o jornal mostrou que ela cria seis netos com R$ 38 do Bolsa Família e doações esporádicas. Na Bahia, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o auxílio chega a 5,4 milhões de pessoas - um terço da população do estado.

“Eu tenho dois filhos, uma mulher de 22 anos e um garoto de 15. Conheço a dificuldade de cuidar de uma criança, imagine de seis”, comentou o policial de 47 anos, pedindo anonimato.

Depois de conhecer o drama de Almerinda, o oficial procurou amigos com quem realiza doações anuais para o Núcleo de Apoio ao Combate do Câncer Infantil (Nacci). Assim, arrecadou R$ 250 e foi às compras. Além dos alimentos, ainda presenteou Almerinda com um vale-gás.

Surpreendida em casa, ela inicialmente manteve a firmeza. Depois, baixou a guarda. “Sempre fui mãe e pai de meus filhos. Sou mãe e pai dos meus netos. Já fiz faxina, trabalhei em obra, revirei lixo, só nunca quis o que é dos outros. Só quero que esses meninos tenham um futuro”, disse, contendo as lágrimas. Dos seis netos que cria, cinco ficaram com ela depois que uma de suas filhas, mãe das crianças, foi assassinada pelo próprio marido.

A Bolsa Família de dona Almerinda já chegou a R$ 164, mas três dos seus netos mudaram de escola e como o sistema do programa até hoje não foi atualizado, a frequência dos garotos nas aulas é dada como nula, o que bloqueia automaticamente o benefício dos dependentes.


“Já fui cinco vezes na Sete Portas (posto da Central de Informações e Atendimento Social  - Cias) pra resolver e eles dizem que o dinheiro vai entrar. Até hoje nada”, conta. Esta semana, até os R$ 38 que vinha recebendo foram bloqueados pelo mesmo motivo, de acordo com o boleto emitido no momento em que tentou sacar o dinheiro. “Amanhã (hoje), vou de novo tentar resolver isso. Se tem algo que não deixo é esses meninos fora da escola”. 

A família vive numa casa de alvenaria sem reboco dividida em quatro espaços. Na sala, há uma cama de solteiro onde dormem Almerinda e mais dois netos, um sofá de dois lugares, um fogão com bocas defeituosas, uma televisão doada, um aparelho de som ganho de presente e muitos sacos cheios de roupa, “porque não tem onde guardar”. A geladeira foi comprada nos tempos da reciclagem.

Passando a sala, chega-se a uma área aberta e sem pavimentação, onde dona Almerinda cria duas patas, um pato e duas galinhas. “É bom pros meninos comerem ovo”, diz. Ali está um banheiro cuja água do chuveiro cai por cima do vaso sanitário sem acento. Os pratos são lavados neste banheiro, que também fornece a água que se bebe na casa. Há rede de esgoto.

O último cômodo é um quarto com um sofá deteriorado e alguns colchões empilhados, que são espalhados pelo chão na hora de dormir. Quatro netos dormem num espaço de aproximadamente 12 metros quadrados, mas só se não chover. “Quando chove, molha tudo aqui e todo mundo se aperta na sala”, relata Almerinda.

Ainda sem saber onde guardaria a comida que chegou de vez, ela só pensava em “usar” o presente. “Êta que eu vou fazer uma feijoada maravilhosa”, vibrou. “E olhe, tá todo mundo convidado”, concluiu Almerinda.

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